Recentemente, vimos que o Brasil não se saiu bem nos quesitos de criatividade avaliados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ficando na 49ª posição entre 64 países, ao lado de Peru, Arábia Saudita, Panamá e El Salvador.
Os resultados do PISA mostram que mais da metade dos estudantes brasileiros não alcançaram o nível básico em criatividade. Eles têm dificuldades em desenvolver uma história a partir de uma ideia ou em organizar e planejar um projeto para resolver um problema. Esta avaliação de pensamento criativo foi introduzida pela primeira vez nesta última edição, reconhecendo a importância de tais habilidades frente ao novo cenário do trabalho, que está sendo cada vez mais moldado pela inteligência artificial generativa.
É contraditório que um país com uma cultura tão rica, famoso pelo Carnaval e diversas expressões artísticas, além das invenções necessárias para enfrentar os desafios do dia a dia, tenha um desempenho tão fraco em criatividade. Contudo, ao analisar os dados, percebemos que os resultados são fortemente justificados por fatores sociais, de gênero e familiares.
O relatório demonstra que estudantes que convivem com insegurança alimentar, instabilidade emocional e familiar têm mais dificuldades em desenvolver o pensamento criativo formal. Enquanto os estudantes mais ricos alcançaram média de 30 pontos, ainda assim abaixo da média da OCDE (33), os estudantes mais pobres têm uma média de 19 pontos, semelhante à média da Indonésia.
A escola é, sem dúvida, a principal condutora de um efetivo processo de mudança e melhoria. No entanto, sozinha, não consegue abranger todos os aspectos da formação educacional de uma pessoa. Além disso, essa instituição precisa se adaptar às novas exigências e ferramentas disponíveis na sociedade; caso contrário, cada vez mais jovens ficarão para trás.
Nesse contexto, iniciativas como as desenvolvidas pelo AfroReggae se tornam ainda mais essenciais. Integramos a produção digital de forma transversal em nossas ações, promovendo projetos como Crespo Music para diversificação do cenário musical e o AfroGames que visa a inserção de jovens no gigante e crescente mercado de jogos eletrônicos. Desde sua criação, o AfroReggae tem utilizado a arte e a cultura como ferramentas para a transformação social, focado em jovens de áreas socioeconomicamente menos favorecidas.
Apesar do impacto positivo, projetos artísticos e culturais enfrentam grandes desafios, especialmente no que diz respeito ao financiamento. A compreensão da subjetividade inerente à arte e à cultura muitas vezes dificulta a captação de recursos, principalmente privados, pois os benefícios dessas iniciativas podem ser mais abstratos e menos imediatos. O Brasil passou por um fosso no que se refere ao financiamento da cultura e agora tem demonstrado uma nova e boa direção. É necessário que, com os resultados do PISA, as empresas também encarem a questão e se transformem em instrumentos de mudança, indo além do investimento feito pelo marketing, do contrário, até o desenvolvimento econômico ficará prejudicado.
Um trabalho de base é crucial para transformar verdadeiramente a realidade dos jovens brasileiros. Apenas através de uma estrutura que valorize tanto o pensamento crítico quanto a expressão artística e cultural poderemos preparar nossos jovens para os desafios do futuro. E para isso, é crucial que haja uma compreensão mais ampla do valor da arte e da cultura, acompanhado de um esforço conjunto para garantir o financiamento e apoio necessário para essas iniciativas.